ANALÓGICA





Encontrei um caderno de anotações que o Celso me deu entre tantos que eu possuo e deixei inacabados -  quase um diário que desorganizada ia perdendo cotidianamente.
Nele haviam alguns rabiscos e lembranças bastante dolorosas mas superadas, enfim.
Foi bom reler e perceber que o sofrimento de então passou.
Em geral, nos tempos de agora, digito mais do que propriamente escrevo - à mão livre, digo.
É muito mais gostoso, talvez até mais intimista - fazendo um paralelo em relação a fotografia  P &B, por exemplo.
A mão corre, os pensamentos fluem mais facilmente.
Pelo menos pra mim que sou analógica.
Essa coisa de digitar ( que faço agora ao transcrever) , de estar sempre on line está ficando séria.
Preocupante  e até
anti criativo, particularmente.
Recheada de informações supérfluas via internet  a encher  baús de nadas que levam a lugar algum.
Estar no mundo digital  pode ser bem complicado.
É um trocar de vazios por nadas - que não nadam - e/ou  vice versa.
E o tique - taque tiquetaqueando...
Até que sem aviso, numa curva distraída, a gente inventa de morrer.
Sem ter plenado, perdendo o agora.
Sem ter chorado, sorrido, sentido o suficiente. 
Sem  ter procurado responder a novas perguntas que haviam sido trocadas por velhas respostas.
Sem ter prestado atenção à primavera -
como Carolina que na janela não viu a rosa nascer.
A vida é mais ou menos isso: Reticências repetidas. Até quando, indubitavelmente, chegarmos  ao tudo. Ao todo. Ao nada...
À curva no fim de uma estrada.
Ao suposto ponto final.
Pra este mundo, ponto final.
Se haverá depois...
Interrogação( ? ).



Comentários

  1. Prima, sinceramente, você não escreve, você fala!
    É incrível!
    Parece que você está ao nosso lado conversando!
    Eu, propriamente, que tenho dificuldade de leitura e que a linguagem oral me chega bem mais fácil, consigo ler o que você escreve sem me perder, sem me cansar.
    Aliás, fica sempre a sensação de quero mais!
    Você deveria escrever mesmo, como uma arte paralela, mas de igual valor aos seus desenhos.
    Tem algo diferente!
    A sensação é amesma dos desenhos, porque eles parecem conversar com a gente!

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  2. Tô gostando da energia, Lia! Vai em frente!

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