If

 Três crianças, um opala vermelho, pai e mãe , uma estrada sem fim embora com saída e destino pré determinados( Rio de janeiro e Fortaleza), uma fita cassete única que não estava arranhada e uma  felicidade sem tempo de/ ou lembrança de acabar. A música que meu irmão gravou na memória era If do Bread. Ela sempre foi especial prá mim mas não lembrava porquê até ele tocar no assunto : "Foi aquela, Lia…A viagem inteira, que o papai colocava…"
O quarto irmão ainda estava por vir.
Naquela época não existia a palavra  e muito menos o acontecimento morte. Coisa de livro. Só acontecia com os outros. Ou nos filmes ou nas guerras de ouvir falar dos livros de História ou da conversa dos adultos.
Conversa que até onde a gente ouvia era bacana à beça. Discutia-se tudo. O sexo dos anjos mesmo e haja polêmica! Polêmica saudável. Sobre tudo.
Nosso vizinho de rua ao encontrar meu pai dizia brincando que para se informar bastava colocar o ouvido prá fora e tinha um rouquinho que falava alto e informava tudo que era uma graça! Esse foi embora muiiiiiiiito cedo mas bem mais tarde quando já éramos adolescentes. Foi o primeiro grande baque. Mas não tínhamos maturidade para assimilar ainda. Continuamos a vida com sequelas, sim, mas empurradas pro fundo do nosso baú inconsciente. Meu irmão que assobiava idêntico nunca mais assobiou…
Voltando à infância uma vez que ainda não saí de lá, só dei uma pincelada na adolescência, nesta época  não havia shoppings. O  primeiro foi o Jumbo  Pão de  Açucar que veio depois. Um dia chegou lá em casa , na rua,  um elefante, garoto propaganda do shopping . Foi muito engraçado e uma festa pra meninada- nós. Ele adorou a mangueira preferida do meu pai e  comeu não sei quantas mangas-rosa de lá. Era um sábado. Meu pai abriu a janela pra ver que confusão era aquela e ria, ria, ria muito daquilo tudo.
Tudo era uma festa. Quando não havia o que comemorar , fazia-se o aniversário da geladeira.
A família era grande e nós  brincávamos em casa, Casa era sempre cheia de primos, amigos , tudo muito, muito gostoso. Futebol, bicicleta.piscina ou melhor, tanque…
Cada árvore era um estado para onde viajávamos. Piqueniques de madrugada com Maria Maluca- era um bolinho gostoso…Será que era mesmo? A memória nos prega cada peça… Sem falar que são afetivas e a minha provavelmente não é a mesma que a de algum amigo ou irmão, não sei.
Quem tinha mais amigos era o Sunguinha. Quem o conhece sabe quem é. E a turma dele acabou também sendo a nossa por tabela. São João na casa do Dr. Mairan, nossa, incontáveis vezes.
E aí começa. Outro que se foi cedo. E depois outro tio querido. E mais…
Melhor parar. Não percebi muita coisa mais no meu mundinho.
Fugi de Fortaleza. Aqui ficou chato . Chatíssimo. Doloroso.. Fui egoísta, sumi.
Acabei voltando e não terminando o que tinha ido fazer.
Mas eu não tinha fugido?
Básico. Geografia não importa.Minha avó sempre me repetia isso.
Por que os jovens não escutam os mais velhos?
Um dia a conta chega.
Mente sã. Corpo são.
É pra poucos.
Agora  um , depois, outro e mais outro. Fila indiana.
Existe, aprendi, pelo menos isso, solidariedade. Embora não muita solidariedade.
É muito fácil surtar caso não haja apoio. O mundo hoje, atrás dessa felicidade pessoal , egoísta inexistente está cada vez mais egocêntrica e descartável..
Uma pessoa que gosto e admiro muito me disse: "A única coisa nesta vida que é democrática é a morte."
E ela chega para todos. Mais cedo ou mais tarde. Prá mim. Prá você.
Ninguém nasceu prá semente.
E a Música do Bread…If.
If o quê? If não existe. Já foi.

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