CO-RENTEZA



Lumiar, 13/04/1990

Sexta- feira, dia de lua cheia.

Éramos bem jovens. Não sei o que passava na cabeça de cada um de nós. Na minha, nada importante...Aliás, nada, nenhum pensamento, era só sentimento.
Só queria estar ali. Entre as pedras, entre amigos, ouvindo, sentindo a correnteza, a natureza, à noite,bicho grilo mesmo, cantando, sob uma lua liiiiiinda e um frio de matar que a gente tratava cuidadosamente com chá e "Velho barreiro"( uma tal de cachaça branca que misturávamos com tudo: coca cola, chá, o que fosse...O barato era ficar bem quentinho) e que achavávamos delicioso- creio que hoje em dia não fôssemos gostar muito...
Já disseram para não confiar em alguém com mais de trinta anos e deve fazer algum sentido,sabe? Acho que os anos me deixaram um tanto "fresca", "luxenta"," coizital"...
É um tal de isso dá náusea, aquilo dá enxaqueca...Antigamente eu tomava vinho "sangue de boi" e não sabia nem o que era ressaca!
Ah, assávamos batatas também nesta noite. Estávamos acampados em frente a casa do Aquiles(Quilinho, um gênio, tocava tudo e era um senhor artista!Parece que hoje em dia não seguiu a carreira não. Tá super bem numa profissão aí mais, digamos assim, políticamente correta, eu acho, um craque na Mortemática ou na informática, não sei direito. Não me surpreendeu a capacidade dele, de forma alguma, apenas a escolha...Mas, c'est lá vie e o cara parece que continua gente fina como sempre!) porque não cabia todos. Era muita garotada!!!
Ah, e nesta sexta feira de lua cheia de velho barreiro e batata assada na correnteza fazíamos poesia. Poesia cega. Era assim: Um começava e o outro continuava...Não sei se a noite estava mágica- Eu sei que era boba, que estava especialmente emocionada como sempre fico com tudo o que se refere a Lumiar mas...guardei prá posteridade- se é nostalgia ou sei lá o que, ainda continuo achando nossa poesia supimpa!


Obs: Saímos todos com um pedacinho de papel...O que cada um fez com ele, não sei...rs


CO-RENTEZA : Lia, Leo, Tita, Fernando, Mário, Patrícia, Fabiana, Carla



Existem palavras que a gente sempre usa;
são palavras de uma enorme viagem
como o "sinistro" que o Leo falou...
Cantou, sorriu, sonhou,
viveu?
Eu realmente não sei.
O que vale é ter-se cores de vida e de sangue:
Sangue carmim, caindo brutalmente em terças, em oitavas.
Delírios,
faço e disfarço;
me acabo em papoulas e lírios
flores tão belas como delírios( de existência);
É estar aqui, sentir o mundo todo...
Tudonadapoucoqualquercoisaécoisanenhuma que
não se deseje
e alcance a sua utopia,
não enxergando o que não queres ver
e viajar soltando as idéias
nas formas e suas transformações.


Comentários

  1. Lioca, que delicia ler o que vc escreve....escrita solta, fluida mas cheia de sentimento, nos transportando pra Lumiar.....

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    1. Obrigada, Lenyzinha, que bom que gostou!Beijo carinhosoe amigo. Te adoro.

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  2. Quem escreve assim não devia parar de o fazer e publicar.

    Vindo do outro lado do oceano, arrastado por ventos e marés que não controlo, cheguei até aqui…
    Posso lançar âncora?

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    1. Do lado de cá do oceano, Rui Pascoal, digo que claro, pode lançar âncora e agradeço muito o comentário! Abraço para você. :-)

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  3. Lia, que saudade! Bom demais te reencontrar! Por que vc saiu do Face logo agora? Volta, por favor!
    Fernando Vasco

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